Precisamos falar de frustração
“Vivemos em um mundo mais próspero. Você, provavelmente, não conheceu alguém que tenha morrido de fome. Claro que ainda temos situações de extrema pobreza, mas essa era uma condição compartilhada pela maioria, há pouco tempo atrás.
Saímos de uma época em que ter o que comer era sinônimo de felicidade, para outra em que o excesso de alimento mata mais do que a falta.
E assim, saciados, criamos novas expectativas. Afinal, precisamos de justificativas para a felicidade, algo que faça nossa luta diária ter algum sentido. Logo, sucesso, dinheiro, fama, títulos aparecem como possíveis candidatos a indicadores de uma vida feliz.
Mas, no final das contas, você não é um pato que quer nadar no seu cofre de moedas. Você quer o que o dinheiro pode comprar. Você quer o poder de ter e ser o que quiser. Vida é isso, vontade de poder, nada mais.
O sábio já dizia que o objetivo do ser humano é justificar seu nascimento. Então, se a seleção natural realmente existe, queremos ser os selecionáveis. Queremos superar o vizinho, aquele parente que “se acha“ ou o colega de trabalho. Queremos destaque o tempo todo, custe o que custar. E aí, abrimos mão da nossa própria identidade.
A expectativa agora é lastreada nos outros e aumenta de forma absurda. Um exagero impossível de ser alcançado. Uma geração rumo à frustrada tentativa de ser o que não é, de ter o que não lhe pertence.
Nasce o amor desejo. Vontade daquilo que é alheio. E aí, o diploma vai ficando empoeirado na parede e não traz a felicidade plena que o Doutor esperava.
Vida irrefletida, sem contraste, com expectativas incompatíveis ou altas demais. Vida que se aliena dentro de si, incapaz de alcançar sua melhor versão. Vida desperdiçada, em vão.
Feliz aquele que conseguiu o pão. “