“Se você acertar a cultura, quase todo o resto praticamente cuidará de si”
A frase acima é de Tony Hsieh, presidente da Zappos.com, e nos ajuda a entender a importância da cultura dentro de uma organização.
Conforme falamos no primeiro post sobre liderança, o sucesso de um time depende, entre outras coisas, das crenças de cada um sobre os objetivos daquele grupo. O grande problema é que muitas vezes ignoramos o assunto, não enxergamos o valor de algo que tem, ironicamente, afetado nossas vidas há muito tempo.
Milhares de anos atrás, antes mesmo da Revolução Agrícola, quando as atividades humanas ainda se resumiam à caça e coleta, os grupos dificilmente passavam de 150 indivíduos. De acordo com o doutor em história Yuval Noah Harari, pesquisas sociológicas provaram a validade desse “número mágico” e para o observador mais atento, existem muitos exemplos de organizações que não extrapolam essa quantidade de integrantes nos dias de hoje, como comunidades, negócios familiares, redes sociais e unidades militares:
“Abaixo desse limite, não há necessidade de hierarquias formais, títulos e livros de direito para manter a ordem. Um pelotão de 30 soldados ou mesmo uma companhia de cem soldados pode funcionar muito bem com base em relações íntimas, com um mínimo de disciplina formal”
Quando o limite crítico de 150 pessoas foi ultrapassado, foi preciso que as organizações se reinventassem. Uma das teorias mais aceitas pela antropologia aponta um responsável: o mito. Segundo Harari, “um grande grupo de estranhos pode cooperar de maneira eficaz se acreditar nos mesmos mitos.Toda cooperação humana em grande escala – seja um Estado moderno, uma igreja medieval, uma cidade antiga ou uma tribo arcaica – se baseia em mitos partilhados”.
A crença em comum de alguns de nossos ancestrais funcionou muito bem para fomentar o cooperação entre indivíduos, porém, é claro que esses mitos podem levar a resultados catastróficos, como mostram vários exemplos históricos. O mesmo pode acontecer quando lidamos com qualquer organização nos dias de hoje, por isso a importância de dedicar muita energia à construção de uma Cultura Organizacional coesa.
Outro consagrado autor a falar sobre o assunto é Joseph Campbell, segundo ele, além das funções místicas e cosmológicas, “os mitos servem como suporte e validação de determinada ordem social, variando tremendamente de lugar para lugar. Foi essa função sociológica do mito que assumiu a direção do nosso mundo”. Existe outra função, a pedagógica, que nos ensina “como viver uma vida humana sob qualquer circunstância“.
O poder da crença coletiva está muito presente e molda muitos aspectos do nosso cotidiano. Pense na sua empresa, por exemplo, ela não é o produto que vende, tampouco é um grupo de funcionários ou clientes, assim como, não se resume aos imóveis onde está alocada. O conceito jurídico de empresa está separado do mundo físico, não passa de um monte de diretrizes escritas em um papel, no qual convencionamos acreditar. O mesmo acontece com o dinheiro, os países e até o seu time favorito.
Toda nossa sociedade está baseada em conjuntos de crenças coletivas, como leis, fronteiras, governos e normas, que existem apenas no mundo das ideias e somente porque todos concordamos em aceitá-los.
Confesso que por algum tempo não pude entender a importância do tema, não foi uma de minhas matérias favoritas na faculdade, mas, quando agregamos essa visão antropológica ao nosso dia a dia, não dá pra negar o quão relevante é.
A Cultura de sua organização, seja de qual tipo for, pode ter um efeito devastador ou ser o motor que impulsiona os indivíduos em direção aos mesmos objetivos. Nenhuma grande sociedade funciona bem se for resumida a diretrizes em um papel, devemos encontrar o real valor de sua existência e garantir que todos os envolvidos compartilhem dos mesmos propósitos.
Referências: De Volta ao Mosteiro, James C. Hunter, 2014. Uma Breve História da Humanidade, Yuval Hoah Harari, 2012. O Poder do Mito, Joseph Campbell, 1990.