A estratégia conquista o esporte
Imagine chegar em um ginásio para treinar um badalado time da NBA. Uma equipe lotada de gigantes, não apenas pela estatura descomunal, mas por todo seu talento e conquistas.
Você olha para aqueles atletas vencedores, impetuosos por novas vitórias, egos inflados e contando as horas para acabar com o próximo oponente, como touros que arranham o chão aguardando o momento de atacar.
Você, então, os reúne em círculo no meio da quadra, pede para que fechem os olhos e… comecem a meditar.
Essa foi uma das estratégias inusitadas utilizadas por Phil Jackson, o lendário treinador de basquete, considerado por muitos o maior vencedor do mundo dos esportes.
Ele juntou o zen-budismo, a cultura dos guerreiros Lakota, alguns ensinamentos dos textos sagrados chineses e a boa e velha música para formar algumas das equipes mais competitivas de todos os tempos.
Contexto
Filhos de pais religiosos, Phil Jackson teve uma educação rígida quando criança. Seus pais pregavam a necessidade de uma separação da sociedade material, então proibiam os filhos de assistir TV, de ir ao cinema e a bailes, de ler revistas em quadrinhos ou até mesmo de conviver com os amigos da escola.
Encontrou no esporte uma saída: “O basquete me salvou da presença nos cultos na maioria dos fins de semana”.
Como jogador, foi uma grande promessa quando novato. Chegou a ser uma celebridade local no último ano da faculdade, quando foi eleito o melhor jogador do time campeão, o Williston High.
De 1970 a 1979 jogou profissionalmente na NBA, pelo New York Knicks. Conquistou dois títulos e fez ótimas temporadas, mas, até por questões de saúde, não ganhou tanto destaque quanto o passado lhe prometera ou o futuro lhe reservara.
No início da temporada de 1979-80, foi cortado do plantel de jogadores e recebeu uma oferta para permanecer nos Knicks como assistente técnico.
Além do corte substancial de salário, ficou inseguro sobre seu futuro. Pensou que nunca mais sentiria “a emoção da batalha” e que talvez nunca mais viveria uma experiência tão intensa quanto a que tivera como jogador da NBA:
“Como poderei fazer outra coisa na vida que não me seja tão significante como jogar basquete? Onde é que poderei encontrar um novo objetivo na vida?”
As respostas chegariam alguns anos depois.
O time de Chicago estava atrás de um assistente técnico com histórico de campeão como jogador para inspirar os jovens. Logo a proposta chegou para Phil.
O Chicago Bulls estava entrando em ponto de combustão: Michael Jordan florescera no ano anterior, Scottie Pippen e Horace Grant, conhecidos como “os dobermans” por sua velocidade e agressividade, eram novatos promissores, e Phil Jackson assinou o contrato!
Pouco tempo depois, em 1989, Jackson assumiu o cargo de treinador, e a história do time que inspirou o mundo começara a se desenhar.
Mas, para a explosão acontecer, alguns componentes ainda precisavam se alinhar.
As jogadas do time eram projetadas para capitalizar a genialidade de Jordan. Os outros jogadores eram meros coadjuvantes, a ponto de a imprensa começar a se referir sarcasticamente aos Bulls como Jordan e os Jordanetes.
Phil Jackson sabia do potencial daquela equipe. Além de Jordan, havia talentos suficientes para que o Chicago Bulls pudesse ser campeão da NBA pela primeira vez.
Para isso, segundo ele, precisava transformar aquele grupo numa tribo:
“Tínhamos ótimos jogadores. Mas, para explorar essa vantagem, precisávamos estar mais conectados como equipe e adotar uma visão mais ampla do trabalho em conjunto do que simplesmente passar a bola para Michael Jordan e esperar o melhor.”
Deu certo, e em 1991 os Bulls conquistariam o título. Não parou por aí, até 1998, sob o comando de Phil Jackson, a tribo de Chicago venceria mais cinco campeonatos em emocionantes batalhas.
Há quem diga que foi sorte do treinador, já que os jogadores eram bons demais. Realmente, não podemos negar que o time era excepcional. Porém, quando Phil saiu do Chicago Bulls (que nunca mais voltaria a vencer um campeonato) e assumiu o Los Angeles Lakers foi campeão da NBA outras cinco vezes.
A sorte pode ter tido o seu papel, mas para o acaso ajudar um técnico a vencer onze vezes um dos campeonatos mais acirrados do mundo, ele tem que saber o que está fazendo.
As estratégias de Phil Jackson para formar equipes de alta performance são lições valiosas de liderança, empatia e trabalho duro.
Formando a tribo
“O que me atraía no basquete era que tudo estava interligado. O jogo era uma complexa dança de ações e reações e exigia um elevado grau de sinergia. O sucesso dependia da confiança em todos na quadra e não apenas em si mesmo” – Phil Jackson
“O basquete é um grande mistério”, argumenta Phil Jackson. Você pode fazer tudo certo, pode ter a melhor combinação de talentos, pode preparar os jogadores para cada eventualidade possível e ter o sistema de jogo mais eficiente. Mas de nada valem seus esforços se os jogadores não tiverem o senso de unidade enquanto grupo.
Infelizmente, a unidade não é algo que se pode ligar com um botão. É preciso criar um ambiente adequado para que floresça e alimentá-la com zelo a cada dia.
Phil utilizou os conceitos da obra “Liderança Tribal”, dos consultores de gestão Dave Logan, John King e Halee Fischer-Wright, que após uma extensa pesquisa, apontaram as cinco etapas de desenvolvimento tribal:
- Etapa 1 – compartilhada pela maioria das gangues de rua e caracterizada pelo desespero, a hostilidade e o sentimento coletivo de que “a vida é uma merda”.
- Etapa 2 – ocupada principalmente por pessoas apáticas que se percebem como vítimas e que são passivamente antagônicas, com a ideia de que “minha vida é uma merda”.
- Etapa 3 – concentrada principalmente na realização individual e impulsionada pelo lema “eu sou o máximo (e você não é)”. Clima que resulta em um conjunto de guerreiros solitários.
- Etapa 4 – dedicada ao orgulho tribal e à convicção primordial de que “nós somos o máximo (e vocês não são)”. Quanto mais forte o adversário, mais poderosa a equipe se torna.
- Etapa 5 – além de rara, se caracteriza pelo sentido inocente de diversão e pela forte convicção de que “a vida é o máximo”.
A maioria dos livros de liderança fala de algumas regras gerais, e Phil Jackson percebeu que seria necessário elaborar estratégias para cada uma das etapas de desenvolvimento.
Quando chegou no Chicago Bulls, uma tribo na Etapa 3, levou esses conceitos ao pé da letra e tomou algumas providências para transformar o centro de treinamento em um santuário, “onde os jogadores estivessem protegidos de todas as distrações do mundo exterior e pudessem se unir como equipe.”
Primeiro, proibiu a entrada de qualquer pessoa que não fosse da organização, de jornalistas a familiares, para que os jogadores pudessem agir naturalmente durante os treinos, sem se preocupar com sua imagem.
De maneira sutil, introduziu verdadeiros costumes tribais.
No início e final de cada treino, os jogadores e staff faziam um círculo no centro da quadra para discutir os objetivos daquele dia.
“Os guerreiros lakota (tribo de nativos norte-americanos) se reuniam em formações circulares porque o círculo era um símbolo da harmonia fundamental do universo.”
Dessa forma, ao colocá-los frente a frente, em um ambiente seguro e de união, criava-se um vínculo inconsciente entre os jogadores, dia após dia.
Outra prática lakota adotada era bater um tambor quando queria que os jogadores se reunissem na sala tribal para uma reunião. A sala tribal (que na verdade era a sala de vídeo) foi decorada com diversos totens indígenas, de garras de urso a penas de coruja.
Quando a equipe perdia um jogo de maneira inexplicável, Phil Jackson acendia um bastão de ramos de sálvia e o sacudia calmamente no ar para purificar o vestiário.
Tudo tinha uma razão, tudo estruturado para trazer o conceito de tribo para aquela equipe e fazê-la subir uma etapa de desenvolvimento tribal.
Embora os jogadores fizessem algumas compreensíveis piadas, como “Phil, que erva é essa que você está fumando aí?”, essas práticas fizeram com que os jogadores se sentissem parte de algo maior do que o próprio basquete.
Phil também selecionava livros para cada um dos jogadores, com base no que sabia a respeito deles, passava filmes e discutia as lições que cada um conseguia tirar. Chamava especialistas para ensinar ioga, tai chi e outras técnicas de mente e corpo.
Convidava palestrantes, como um nutricionista, um detetive disfarçado e um carcereiro, que mostravam novas formas de pensar os problemas difíceis.
Levava os jogadores para viagens curtas, para que tivessem a chance de olhar a cara do mundo para além das salas de espera do aeroporto.
Tais atividades fortaleciam os indivíduos e, como efeito, o ganho coletivo era ainda maior.
“Uma das melhores coisas em nossos treinos era que nos libertavam do mundano. Se na NBA um treinador diz a mesma coisa o tempo todo e os treinos são sempre iguais, isso envelhece rapidamente. Mas as nossas reuniões comunitárias eram de fato importantes. Isso unia o nosso time de um jeito que nunca tinha visto nos outros times que joguei.”
Steve Kerr
“Era como se fizéssemos parte de algo muito importante. Como se fôssemos os mocinhos porque tentávamos jogar da maneira certa. E isso se reforçou depois que começamos a ganhar.”
John Paxson
É claro que nada foi tão simples. Também foram necessários muito treinamento, talento e, é claro, vitórias. Mas essas práticas trouxeram a unidade, aquele algo a mais que diferencia os times campeões. A tribo estava formada.
Na temporada de 1997-98, conhecida como a Última Dança, Jackson adotou um ritual que sua esposa fazia com as crianças no orfanato onde trabalhava.
Convocou uma reunião com o time antes das finais e pediu que todos escrevessem um breve parágrafo sobre o significado daquela temporada e da equipe.
O encontro ocorreu na sala tribal. Todos se pronunciaram à sua maneira.
Steve Kerr, por exemplo, referiu-se à emoção de ter levado o filho de 4 anos de idade, que era aficionado por basquete, ao vestiário do Bulls para conhecer Jordan, Pippen e Rodman.
Michael Jordan escreveu um pequeno poema para a ocasião. Elogiou a dedicação de todos e desejou que aquele vínculo durasse para sempre.
“Foi emocionante ouvir aqueles jogadores durões da NBA trocando revelações pessoais com suavidade. Falaram e depois colocaram mensagens dentro de uma lata de café. Por fim, apagamos a luz e ateamos fogo às palavras.
Nunca me esquecerei da aura daquela sala enquanto o fogo ardia no escuro. E da intensa intimidade que nos uniu enquanto estávamos sentados silenciosos, observando o apagar das chamas. Talvez nossa ligação nunca tenha sido tão forte.”
Phil Jackson
Naquele momento, a vida era o máximo!
Gestão de talentos egos
“No começo os egos ainda não estavam definidos. Mas agora já tínhamos diferentes personalidades mescladas e egos muito fortes. Phil nos uniu como uma fraternidade.” – Michael Jordan
Phil Jackson não gostava de ser o centro das atenções. Na verdade, não se sentia confortável em celebrações e tinha fobia de grande multidões.
O oposto das estrelas da NBA.
Para ter uma tribo de Nível 5, Phil precisava fazer com que seus jogadores superassem seus egos. Esse era um de seus principais desafios:
“São necessários anos de abnegação para que os jovens atletas deixem de lado os próprios egos e se engajem de corpo e alma na experiência de grupo”.
Phil não tinha esse tempo. Além da pressão por resultados, a cultura circundante da NBA “celebra o comportamento egoísta e acentua a realização individual acima da união da equipe”.
A maioria dos futuros jogadores da NBA submerge em um mundo que reforça o egoísmo ainda nos tempos de estudante.
Para piorar, à medida que alcançam algum sucesso, se veem rodeados por legiões de agentes, promotores, torcedores fanáticos e outros bajuladores. Todos afirmando que eles são “os caras”.
Pressão, egos, desunião… um trabalho para o “Mestre Zen”. Apelido dado a Phil Jackson por trazer conceitos budistas à equipe:
“Levei anos de prática para aquietar minha mente ocupada, mas no processo descobri que, quanto mais me conscientizava do que ocorria dentro de mim, mais me interligava com o mundo exterior. Fiquei mais paciente com os outros e mais calmo sob pressão, qualidades que ajudaram demais quando me tornei treinador.”
Três aspectos do zen são listados por ele como fundamentais para a liderança:
1. Abrir mão do controle
O melhor exemplo sobre esse aspecto é o caso de Dennis Rodman. O mais extravagante e controverso astro da NBA, que chegou no Chicago Bulls em 1995.
Phil Jackson considerou que aquela seria a jornada de sua vida: Como fazer aquele atleta se adaptar ao estilo de jogo dos Bulls e, principalmente, fazer parte da tribo?
A primeira iniciativa de Jackson foi conversar com os jogadores abertamente. Alertou a todos que talvez Rodman ignorasse algumas regras porque lhe era difícil cumprir certas diretrizes. E que talvez tivesse que abrir algumas exceções para ele.
“A equipe teria que ser madura em relação a isso“, acrescentou.
“A princípio, Dennis tentou ludibriar as regras, fazendo-se de desentendido. Às vezes, lhe aplicávamos uma multa irrisória ou fazíamos alguma piada e, outras vezes, simplesmente o ignorávamos”.
Jackson disse que não era com ele que Rodman deveria se preocupar, mas com seus companheiros de equipe. O problema acabou quando percebeu que ninguém da equipe estava interessado nas suas pequenas rebeliões.
Os outros técnicos de Rodman o tinham tratado como criança, forçando o atleta a submeter-se ao comando com disciplina rígida. O que Jackson fez foi tratá-lo como um adulto e responsabilizá-lo por suas ações (por mais estranhas que fossem).
Logo, com seus cabelos coloridos, aparições dignas de um astro do rock, polêmicas e, principalmente, um entusiasmo selvagem na quadra, Rodman se tornou o favorito dos torcedores e peça fundamental dos Bulls.
“Phil não olhava para mim como um jogador de basquete. Ele olhava para mim como um grande amigo.”
Dennis Rodman
2. Confiar no momento
Em uma das conversas de vestiário, Jordan e Tex, membro da comissão técnica, discutiam sobre o sistema de jogo. O assunto era, mais uma vez, que Jordan deveria ter uma atuação mais coletiva.
O atleta, no entanto, acreditava que sua criatividade abria novas possibilidades e entusiamo para o jogo:
- “Não existe o ‘eu’ na palavra ‘time‘” – disse Tex.
- “Mas existe na palavra ‘venceu‘”- replicou Jordan sorrindo.
Era um debate comum. Afinal, Jordan já era considerado por muitos o melhor de todos os tempos. Phil achava que, até certo ponto, ambos tinham razão.
Por isso, teve uma conversa franca com Jordan, de uma forma que pudesse equilibrar esses interesses:
“Você precisa dividir o palco com seus companheiros de equipe. Se não fizer isso, eles não poderão crescer. Grandes jogadores aprimoram os outros jogadores.”
Era uma forma inteligente de desafiar o próprio ego de Jordan.
Phil o encorajou a ter um papel de catalisador de uma equipe em que todos trabalhassem juntos. Sem ditar regras sobre o que queria, simplesmente o estimulava a pensar no problema de maneira diferente.
Fazia perguntas sobre estratégias e como ele achava que os demais jogadores iriam se sentir em determinadas ocasiões. Passou a tratar Jordan como um parceiro.
Michael agora olha para trás e comenta que gostava dessa abordagem porque o “permitia ser a pessoa que precisava ser“.
Em suma, o que Phil procurava fazer era dar espaço para que Michael pudesse integrar suas ambições pessoais com as da equipe.
Com Jordan mais colaborativo, os adversários ficavam perdidos na marcação. Havia muitos Bulls protagonistas, todos estavam integrados e nada mais poderia parar o time de Chicago.
“Phil confiava em mim para me conectar com as diferentes personalidades do grupo e para fortalecer a ligação da equipe. Nós dois tínhamos um vínculo muito forte, de modo que, quando eu fazia alguma coisa, Pippen também fazia e o resto do time nos seguia. Isso tornava a ligação tão forte que nada poderia quebrá-la.”
Michael Jordan
3. Viver com compaixão
Anos depois de ter utilizado essa estratégia com Jordan, Phil tentou novamente. Dessa vez, com Kobe Bryant nos Los Angeles Lakers.
Não funcionou.
Kobe tinha um objetivo claro, ser o maior de todos os tempos, e ele estava convicto de que sabia o que teria de fazer para chegar lá. Além disso, disputava o posto de líder da equipe com Shaquille O’Neal, com quem teve algumas desavenças.
Quando chegou nos Lakers, Phil tratou de encorajá-lo a se juntar mais aos companheiros do time e se esconder menos no quarto do hotel para estudar as reprises da partida. Mas Kobe zombava da ideia e dizia que os outros só estavam interessados em carros e mulheres.
Para piorar, os jogadores de basquete profissional são altamente sensíveis à critica, mesmo porque quase tudo que fazem é julgado diariamente pelos técnicos, pela mídia e por todos que possuem uma TV.
Phil teve uma série de problemas com ele.
Com o passar dos anos, Kobe evoluiu técnica e fisicamente, ao ponto do próprio Jordan declarar que ele era o único jogador que podia chegar ao seu nível.
Phil também concordava com isso, menos por um aspecto – a habilidade superior de Jordan como líder:
“Jordan conseguia por instinto que os jogadores fizessem o trabalho na quadra. Já Kobe teve que percorrer um longo caminho. Ele sabia cantar o jogo, mas faltava-lhe a vivência nua e crua nos próprios ossos que Jordan tinha.”
Logo, isso também começaria a mudar.
Kobe sempre foi diferente de Jordan. Reservado quando adolescente, não tinha se sociabilizado na faculdade. Tinha tendência de se refugiar em si mesmo.
Phil chegou à conclusão de que a liderança não é forçar a própria vontade sobre os outros. É simplesmente dominar a arte de deixar rolar.
Por compreende-lo melhor, deu alguns direcionamentos e o ajudou sempre que podia, mas deixou que adquirisse a capacidade de liderança em seu tempo, à sua maneira. Kobe precisava encontrar seu próprio destino.
Na conquista do título em 2010, Phil declarou que o mais gratificante foi poder testemunhar a transformação de Kobe, que deixava de ser um jogador egoísta e exigente para se tornar um líder a ser seguido pelos companheiros do time. “E, para isso, tinha aprendido a dar para receber de volta.”
“Nosso time era difícil de enfrentar. Isso porque o adversário não sabia o que íamos fazer. Porque nós também não sabíamos o que íamos fazer. Todos observavam e reagiam uns aos outros. Era uma grande orquestra.”
Kobe Bryant
Como música
“Sempre senti uma ligação estreita entre a música e o basquete. O jogo é rítmico por natureza e exige o mesmo altruísmo, uma comunicação não verbal encontrada nas melhores bandas de jazz.” – Phil Jackson
Sincronismo. Harmonia. Ritmo. São muitas as qualidade que definem uma boa música.
Seja no meio esportivo ou musical, para uma equipe atingir o ápice da alta performance, é necessário muita prática.
A abordagem de treinamento de Phil Jackson era peculiar.
Para o time assimilar as táticas (como o famoso triângulo ofensivo), alegava que o segredo era treinar cada jogador para fazer a leitura do momento do jogo e reagir de modo adequado:
“Ou os jogadores estão perfeitamente sincronizados a cada segundo ou o sistema inteiro não funciona.”
Phil Jackson também acreditava que a essência do treinamento não era apenas apontar os erros aos jogadores, mas garantir que estivessem conscientes de que os cometeram. “Quando não reconhecem o erro, perde-se o jogo”, dizia.
Para adquirir esse sincronismo e consciência, usou algumas estratégias nada usuais, que caracterizam a genialidade de Phil Jackson:
A respiração é igual à mente
“É verdade, Phil, que você e os jogadores se sentam numa sala escura em círculo de mãos dadas antes dos jogos?”, perguntavam os jornalistas de maneira irônica.
Phil alega que sofria muita gozação, até de outros técnicos, por conta da experiência com a meditação.
“Só me restava sorrir. A meditação é uma técnica de fácil acesso para aquietar a mente e fixar a atenção dos jogadores, que muitas vezes precisam tomar decisões rápidas sob enorme pressão.“
Além de todos os benefícios citados pela prática budista, Phil percebeu que quando os jogadores se sentavam um ao lado do outro em silêncio e respiravam em sincronia, isso os alinhava num nível muito mais eficaz do que as palavras.
Ouvir o inaudível
No basquete, as estatísticas mostram a assistência ou os passes dos jogadores que levam a pontuação. Mas o que interessava para Phil era que os jogadores estivessem concentrados nos momentos anteriores, “no passe que leva ao passe que leva à cesta”.
“Esse estado de consciência precisa de tempo para se desenvolver, mas, uma vez conquistado, o jogo se desenrola diante dos olhos como uma história.”
Para despertar tal consciência, aproveitava um treino em que os jogadores parecessem mais indiferentes e apagava as luzes do ginásio para fazê-los treinar no escuro. Em outras ocasiões, os fazia treinar sem dizer uma palavra.
“Os meus assistentes técnicos diziam que eu estava louco. Mas o que me importava é que os jogadores despertassem, mesmo que apenas por um instante, para enxergar o invisível e ouvir o inaudível.“
Faça o baterista soar bem
Phil trouxe o compasso musical para as quadras. Percebeu que a melhor maneira de levar os jogadores a coordenar as ações era fazer com que jogassem dentro de um ritmo.
Imagine, por exemplo, a batida de We Will Rock You, do Queen:
“A regra básica era que o jogador tinha que fazer alguma coisa com a bola antes da terceira batida: ou passar, ou arremessar ou driblar. Quando todos mantêm o tempo, torna-se mais fácil harmonizar um com o outro, batida por batida.”
Para finalizar
“Vencer requer talento e vencer de novo requer caráter.”– John Wooden
Phil Jackson transformou grupos de excelentes jogadores em equipes de alta performance…
“Embora tivéssemos muitos talentos, ainda não tínhamos descoberto um jeito de realizar nosso potencial. E quando contrataram Phil, nos tornamos atentos e concentrados, de um modo que nunca tinha visto. Isso fez de nós uma máquina, um grupo eficiente e comparável aos melhores times da história.”
Derek Fisher
…fez isso, pois olhava o basquete sob o ponto de vista estratégico e não tático…
“Quando jovem, minha tendência era me concentrar em como levar vantagem sobre o adversário em cada partida. Mas logo comecei a conceber o basquete como um jogo dinâmico de xadrez, onde todas as peças se movimentavam.”
…Phil Jackson formou tribos que superaram seus egos para jogarem como música.
Referências: Onze Anéis, Phil Jackson, 2013. The Last Dance, documentário Netflix, 2020. Cestas Sagradas, Phil Jackson, 1997.