Bom líder ou situação ideal?
No último post discutimos algumas características que uma equipe pode ter. As variáveis encontradas foram: o perfil comportamental de cada indivíduo, o nível de diversidade dos integrantes, fases de desenvolvimento e maturidade das equipes, cenários e objetivos do grupo e, finalmente, seu tamanho.
O sortimento dessas variáveis forma o perfil de uma equipe e nos mostra qual tipo de liderança pode funcionar melhor. Nesse post, buscaremos entender os diversos perfis de líderes e como eles se relacionam com as equipes.
É muito comum encontrar uma daquelas listas de “tipos de chefe” que existem por aí, utilizando como referência animais, deuses, personagens e, até mesmo, frutas, para diferenciar os perfis. Mas a grande maioria tenta, apenas, tornar mais acessível ou “interessante” a leitura e é derivada de estudos acadêmicos mais densos. Chiavenato cita em seu livro “Administração: teoria, processo e prática” a lista que acredito ser uma importante base para determinar os estilos de gestão existentes hoje. Segundo ele, são quatro:
Autocrático – é um sistema administrativo forte, coercitivo e arbitrário, que controla rigidamente tudo o que ocorre dentro da empresa. O processo decisório é totalmente centralizado, a comunicação é precária, as pessoas não são solicitadas a gerar informação ou opinião. O relacionamento entre os funcionários é considerado prejudicial ao bom andamento do trabalho e a meritocracia dá ênfase às punições, gerando um ambiente de temor e desconfiança.
Autoritário – é um sistema um pouco mais suave e menos rígido que o autocrático. O processo decisório ainda é centralizado, permite uma diminuta delegação quanto às decisões de pequeno porte, mas sempre baseadas em rotinas e prescrições e sujeitas à aprovação posterior. A comunicação ainda é vertical e descendente, mas o gestor eventualmente se orienta em informações vinda de escalões mais baixos. Tolera que as pessoas se relacionem entre si, em um clima de condescendia relativa, mas ainda considera uma ameaça aos interesses e objetivos da empresa. A meritocracia mantém a ênfase nas punições, mas o sistema é menos arbitrário e oferece algumas recompensas materiais e salariais mais frequentes, as recompensas simbólicas ou sociais são raras.
Consultivo – é um sistema que pende mais para o lado democrático do que impositivo. Representa um gradativo abrandamento da arbitrariedade organizacional. O processo decisório é do tipo participativo, a opinião e os pontos de vista dos níveis inferiores são considerados na definição de políticas e diretrizes. A comunicação prevê troca vertical de informações, bem como comunicação lateral entre os pares. O temor e a ameaça de sanções disciplinares não existem. A confiança depositada nas pessoas já é bem mais elevada, embora não completa e definitiva. Busca-se condições favoráveis a uma organização informal sadia e positiva. A meritocracia é voltada às recompensas materiais e simbólicas, embora eventualmente ocorram punições.
Participativo – é o sistema administrativo democrático por excelência, o mais aberto de todos eles, as decisões são totalmente delegadas. Embora o líder defina políticas e diretrizes, ele apenas controla os resultados e reassume em casos de emergência. As comunicações fluem em todos os sentidos e a empresa faz investimentos em sistemas de informação. As relações interpessoais baseiam-se na confiança mútua entre as pessoas e não em esquemas formais. A meritocracia tem ênfase na recompensa simbólica e social, raramente ocorrem punições, as quais sempre são decididas e definidas pelos grupos envolvidos.
Observe que estamos falando de sistemas de gestão, ou seja, maneiras de liderar, que certamente são influenciadas pelas características pessoais dos líderes, mas essa não é única regra. A cultura e estratégias da empresa, o cenário externo, necessidades de mercado e principalmente o perfil das equipes são determinantes para o sistema de gestão adotado.
Um tipo de liderança em desacordo com as características da equipe pode resultar em um efeito desastroso a longo prazo. Pense, por exemplo, em uma equipe altamente capacitada, que trabalha em um ambiente complexo, possui metas arrojadas e acabou de receber um novo líder, com sistema de gestão autocrático, baseado no medo. A curto prazo, podemos observar um ganho de produtividade, mas muito em breve, os integrantes vão passar a entender (e buscar) o mínimo resultado possível, para não ouvir reclamações e não se sentirem ameaçados. Sem qualquer interesse genuíno em superar expectativas, cria-se um exército de pessoas medíocres.
E o contrário também é verdade, a falta de acompanhamento rígido de desempenho em uma linha de produção, por exemplo, pode representar grandes prejuízos. Por isso, se faz necessária a liderança situacional, que busca o sistema de gestão mais eficiente em cada situação. São tantas as combinações possíveis, que devemos entender cada situação como única, mas valem alguns exemplos:
- O sistema autocrático é geralmente encontrado em empresas que utilizam mão de obra em larga escala e tecnologia rudimentar, em que o pessoal empregado possui baixos níveis socioeconômicos e baixo nível de maturidade. Ex.: construção e pavimentação.
- O sistema autoritário é comumente encontrado em empresas que utilizam tecnologia mais apurada e mão de obra mais especializada e diversificada, mas mantendo ainda alguma fora de coerção para não perder o controle sobre o comportamento das pessoas. Ex.: produção e montagem de empresas industriais e escritórios de contabilidade.
- O sistema consultivo é visto mais facilmente em empresas de serviço e em áreas administrativas, equipes com maior nível de maturidade e perfil individual mais independente, são grupos mais avançados em termos de relação com os empregados. Ex.: bancos e financeiras.
- Já o sistema participativo está presente em empresas que realizam atividades complexas, com pessoal mais especializado e alta diversificação, grupos maduros e com menos integrantes. Ex.: agências de publicidade, desenvolvimento de softwares e consultorias.
Entendo que hoje, no mercado corporativo, um dos principais desafios do líder é evitar a anomia e, ainda, garantir um ambiente motivador e de alta performance. Entender os benefícios do trabalho em grupo e eficiência dos sistemas de gestão, certamente, vai ajudar nessa tarefa:
“Sem dúvida, transformar o trabalho individual, limitado, restrito e rotineiro em um trabalho social, conjunto, interativo, amplo, solidário e criativo por meio de equipes é uma tarefa obrigatória do líder moderno. Prepare-se para isso.”
Idalberto Chiavenato
Referências: Administração, Idalberto Chiavenato, 2014. O Livro dos Negócios – Líder diversos autores, 2011. Design Thinking, Tim Brown, 2010