A mensagem oculta de tudo aquilo que nos cerca.
“- E como chegou o senhor a tão notável conclusão? – perguntou Yate Fulham.
– De uma maneira simples. Há um ramo do conhecimento humano denominado lógica simbólica que pode ser empregado para peneirar todas as inutilidades que rodeiam a linguagem humana. Como se pode ver, mais ou menos 90% do tratado não têm qualquer significado e podemos tirar de todo ele a seguinte conclusão, tão cheia de interesse: – Obrigações de Anacreon para com o Império: Nenhuma. – respondeu Hardin.”
A passagem acima foi tirada do primeiro livro da Trilogia da Fundação de Isaac Asimov, nele, um dos personagens relata como conseguiu eliminar os floreios de um enorme artigo e resumi-lo em uma única ideia, que seria a verdadeira e única mensagem por trás de todo aquele emaranhado de palavras e números.
Quando trazemos esse conceito da ficção para a realidade, observamos que relatórios, e-mails, projetos, discursos, discussões e todo tipo de conteúdo têm uma mensagem primordial, que pode estar ingenuamente perdida ou maliciosamente oculta.
Um exemplo real pode ser visto no caso do matemático John Nash e seu professor universitário. Para conseguir incluir seu aluno em um dos concorridos doutorados americanos, o professor precisou elaborar uma carta de recomendação para que Nash pudesse ser aceito em algum dos programas. Fugindo do senso comum, não descreveu toda a história, dados ou feitos de seu aluno, escreveu apenas a mensagem principal que queria transmitir: “Este homem é um gênio“. Nash acabou sendo alvo de disputa entre as melhores universidades dos EUA, incluindo Harvard e Princeton.
Recentemente, presenciei um exemplo na Campus Party 2015, em uma rodada de startups, onde jovens empreendedores tem 5 minutos para apresentar seus projetos para uma banca de investidores. Em uma das apresentações, o jovem foi muito bem em sua oratória e presença de palco, mas ao final, um dos investidores argumentou: “- Eu não entendi para que serve seu negócio”.
O objetivo oculto de uma mensagem é a parte mais importante de qualquer conteúdo, quando fizer uma apresentação, seja qual for o meio, tenha em mente qual é sua intenção e construa seu raciocínio ao redor dela, existe uma separação clara entre o que dizemos e o que queremos dizer. Ferdinand de Saussure, considerado o pai da linguística, fez essa divisão, constatou que a comunicação está dividida entre significante (forma de transferir a mensagem) e significado (sentido da mensagem).
Portanto, seja como transmissor ou receptor, entenda que a palavra é apenas um meio e o enredo um caminho, o grande valor de qualquer conteúdo pode estar resumido a uma única mensagem, solitária e dispersa, esperando que você a desvende.
Referências: A Fundação, Isaac Asimov, 1951; Game Theory, University of Tokio, 2015, disponível em: www.coursera.org; O Livro da Filosofia, diversos autores, 2011; Curso de Linguística Geral, Ferdinand de Saussure, 1951