Um exemplo inusitado de superação
No post Autoeducação, discutimos a importância de criar estratégias de desenvolvimento pessoal para superar todo e qualquer obstáculo que apareça pelo caminho, hoje, falaremos sobre a aplicação prática desse conceito.
O livro Pense Como Um Freak, dos autores do aclamado Freakonomics, Steven D. Levit e Stephen J. Dubner, traz um ótimo exemplo sobre autoeducação que, para dizer o mínimo, foge do nosso senso comum.
O protagonista dessa história é Takeru Kobayashi e começa em seus primeiros anos de faculdade de economia em uma pequena província japonesa. Kobi (como era conhecido) e sua namorada Kumi estavam passando por dificuldades financeiras em 2000, não conseguiam pagar sequer a energia elétrica de sua residência.
Apesar de seu aspecto frágil, Kobi sempre foi muito conhecido por sua determinação e seu enorme apetite. Isso mesmo, ele era bastante faminto, um “comilão” como descrevia sua namorada. Por isso, Kumi viu uma grande oportunidade ao inscrevê-lo em uma competição, para ver quem comia mais em um programa de televisão. Apesar da relutância inicial, a necessidade financeira falou mais alto e ele acabou aceitando o desafio.
Kobi sabia de sua limitações, era magro, com cerca de 1,70m de altura, parecia um adversário fácil de ser batido, ao analisar seus concorrentes. O que lhe restava era a estratégia. Estudou os competidores de programas anteriores e percebeu que a maioria dos concorrentes se esforçava tanto nas primeiras etapas, que acabava diminuindo o ritmo na etapas finais. Sua estratégia, então, foi inverter o ritmo, começando com esforço suficiente para passar para próximas etapas, com máximo desempenho na grande final. Deu certo! Kobi venceu o concurso e levou para casa 5 mil dólares, que, além de ajudar com a conta de luz, despertou a curiosidade por mais concursos como esse.
Pouco tempo depois, já estava em Nova York para disputar um campeonato em Coney Island, que é acompanhado por mais de 1 milhão de pessoas pela ESPN (pois é!). O desafio dessa vez era comer quantos hot dogs fossem possíveis em 12 minutos. O recorde eram inacreditáveis 25 cachorros-quentes…
Kobi comeu 50!
E não parou por aí, foi a primeira pessoa a vencer 6 edições seguidas do concurso e acabou se transformando em uma estrela internacional, com muitos contratos de publicidade que fizeram sua vida financeira ficar muito confortável.
A grande questão aqui é tentar entender como Kobi conseguiu tamanho destaque. Seus rivais chegaram a acusá-lo de diversas fraudes, desde implante de um segundo esôfago ou estômago até o uso de um relaxante muscular que evitasse o refluxo, mas nada disso parece, sequer, plausível.
Levit e Dubner foram atrás dessa resposta e o próprio Kobayashi lhes contou sua versão:
- Primeiro, teve um longo período de treinamento antes do primeiro concurso, foram longos meses de isolamento, experimentação e feedback.
- Percebeu que a forma como seus concorrentes comiam seus hot dogs era apenas uma versão exagerada de uma refeição comum, então ele criou um novo método, que envolvia segregação do cachorro-quente, comia por partes, de maneira bem coordenada e ágil, o que facilitava a mastigação e lhe dava mais tempo.
- Questionou também o fato de outros participantes beberem muita água durante a competição. Kobi, após testar diversos métodos, percebeu que molhar o pão antes de levá-lo à boca, lhe dava menos sede.
- Testou qual era a melhor temperatura da água e concluiu que a água morna relaxava os músculos da mastigação.
- Filmou seus treinamentos para encontrar oportunidades de ganhar alguns segundos com o aprimoramento de seus movimentos.
- Percebeu que era de suma importância dormir muito e levantar pesos – músculos fortes ajudavam a comer e a evitar o refluxo.
- Descobriu ainda, que a comida se acomodaria melhor em seu estômago se pulasse e se sacudisse durante o processo – o movimento acabou sendo conhecido como Balanço Kobayashi.
Fica claro que sua preparação diligente foi o grande diferencial. Percebe-se, também, que foram utilizados conceitos importantes de inovação, que podem nos ajudar com nossos próprios projetos, como a observação de usuários, experimentação, aprimoramento de ideias e validação de hipóteses.
E apesar de ser uma história bastante distante de nossa realidade, a autoeducação de Kobi deve servir de exemplo para qualquer aspecto de nossas vidas. Conhecer nossas limitações e motivações, definir estratégias e ter uma dedicação superior, nos dá condições de vencer qualquer competição, seja a do mercado de trabalho, do esporte, das artes ou a do maior comilão mesmo.
Referências: Pense Como Um Freak, Steven D. Levit e Stephen J. Dubner, 2014.