Desapego Criativo – Cultivando o essencial
Há cerca de um ano, discutimos sobre o Desapego Criativo, uma abordagem que salientava a importância de desconstruirmos conceitos, para fazermos novas conexões e formar melhores (e mais adequadas) opiniões. Entendemos, também, que devemos fazer uma Dieta de Informação, selecionando o que é realmente importante dentro da enxurrada de informações que recebemos todos os dias e falamos sobre a necessidade de dizer não para a maioria das inúmeras tentações, oportunidades “únicas” e propostas “irrecusáveis”, que recebemos com frequência.
O assunto tem sido constantemente abordado nas teorias sobre produtividade e ganha cada vez mais espaço nas palestras, livrarias e sites especializados, devido a sua grande urgência, por isso, precisamos reforçar esse tema.
Um dos autores com grande notoriedade é Greg McKeown e sua teoria do Essencialismo. Segundo ele, vivemos em um cenário desastroso para aqueles que não conseguem enxergar o que é realmente importante: “temos opções demais e perdemos a capacidade de filtrar o que é essencial do que não é. Segundo os psicólogos, trata-se da “fadiga decisória“: quanto mais escolhas somos forçados a fazer, mais a qualidade das decisões se deteriora”
Outro ponto de preocupação seria o excesso de pressão social, não foram só as opções que aumentaram, com o avanço da tecnologia, ficamos muito mais próximos das opiniões alheias sobre o que deveríamos focalizar. “Não é apenas sobrecarga de informações; é sobrecarga de opiniões”.
Para tornar a situação ainda mais propensa ao desastre total, temos a ideia de que podemos ter tudo e esse mito já está enraizado na nossa sociedade: existe a falsa crença de que as crianças que não estão fazendo atividades extracurriculares aos montes estão ficando para trás em uma corrida inventada por nós mesmos. Quando pensamos em escolas e universidades, aquelas com grades curriculares mais robustas são consideradas as melhores opções. As empresas pedem uma lista imensa de habilidades exigidas nas descrições de cargo e quando conseguimos um emprego, aquele que não trabalha horas e horas além do seu horário de trabalho é considerado pouco produtivo ou motivado:
“A novidade é que hoje, época em que as opções e expectativas se ampliaram de forma significativa, esse mito é ainda mais prejudicial. O resultado é gente estressada que tenta encaixar mais atividades ainda numa vida já sobrecarregada. Isso cria ambientes corporativos em que se fala do equilíbrio entre vida pessoal e profissional, mas onde se espera que os funcionários estejam à disposição no celular 24 horas por dia, sete dias por semana. E leva a reuniões onde se discutem até 10 “prioridades máximas””.
Greg McKeown
O mais interessante disso tudo é que a ideia de darmos atenção apenas àquilo que é essencial não é nova, mais uma vez, não conseguirmos aproveitar muito bem as lições de antigos filósofos e sábios. Buda, Confúcio, Diógenes de Síope e Sócrates são apenas alguns dos nomes que buscavam uma vida pautada no que consideravam essencial e sem distrações. Um deles, Lao-Tsé, que viveu na china e faleceu no ano 535 a.C, conseguiu resumir muito bem toda essa enorme discussão que encontramos hoje em dia: “Para obter conhecimento, acrescente coisas todo dia. Para obter sabedoria, subtraia”.
A ciência parece estar, finalmente, encontrando argumentos para validar a teoria de Lao-Tsé:
“A ideia de que nosso cérebro tem um espaço limitado para armazenar informações e que para aprender algo novo é preciso esquecer alguma outra coisa pode realmente ter um fundo de verdade. Em um novo estudo, pesquisadores do Laboratório Europeu de Biologia Molecular (EMBL, na sigla em inglês) e da Universidade Pablo Olavide, em Sevilha, na Espanha, identificaram um caminho pelo qual o cérebro busca apagar memórias que aparentemente só são ativadas em situações de aprendizagem”.
Fonte: oglobo.com
Nesse cenário de excesso de informações, aliado a um cérebro com poder de armazenamento limitado, o Desapego Criativo se mostra, mais uma vez, absolutamente necessário. McKeown fala sobre três princípios básicos para conseguirmos dar maior atenção ao que é essencial e fugir dessa corrida em que todos estão ficando atolados pelo caminho:
- Escolha individual: podemos escolher onde aplicar nosso tempo e energia
- A prevalência do ruído: quase tudo é ruído, pouquíssimas coisas têm valor excepcional.
- A realidade de perder para ganhar: não podemos ter tudo nem fazer tudo
Lembra de quando nossa mãe pedia para arrumarmos o guarda roupa e jogar fora o que não era mais necessário? Apesar de ser uma árdua tarefa, a organização permitia que encontrássemos verdadeiros tesouros escondidos naquela bagunça. Agora é a hora de arrumar a sua vida e buscar apenas o que é essencial, seja na hora de tomar um café ou na hora de decidir sobre um importante investimento. A escolha é sua.
Referências: Essencialimo. Greg McKeown, 2015. Desapego Criativo. O Livro da Filosofia, Diversos Autores, 2011. O Cérebro Precisa Esquecer para Aprender. oglobo.com (link), acesso em 02 de abril de 2016.