Quatro motivos para acreditarmos que desaprender pode ser tão poderoso quanto aprender.
A importância do conhecimento sempre foi assunto presente em nossas vidas, afinal, é assim que adotamos referências para nossa criatividade, modelos para nossa tomada de decisão e conceitos para construção de nossos argumentos.
Eu, particularmente, sempre gostei muito de estudar e isso me proporcionou um bom estoque de informações que me ajudam em muitas ocasiões. Porém, houve uma lição que me fez enxergar como realmente deveria aproveitar o conhecimento adquirido: A arte de aprender depende, muitas vezes, da sua capacidade de desaprender, isto é, manter-se disponível para adquirir qualquer conhecimento como se ele fosse novo, desafiando conceitos enraizados e quebrando paradigmas.
Em um mundo que não para de mudar e onde a informação se torna cada vez mais abundante, a capacidade de desconstruir conceitos torna-se essencial, pois dessa forma:
- Estará livre para renovar suas ideias e ideais. Para isso, você precisa primeiro admitir sua ignorância, ou seja, abdicar de qualquer conceito que tenha adquirido sobre algum tema. Se considerar que domina algum assunto, sua capacidade de absorver novos insights ficará extremamente limitada. Sócrates dizia que a presunção de saber é o maior obstáculo do conhecimento, você pode bloquear novas informações ao adotar uma postura dessas, daí se extrai a importância de saber que não se sabe.
- Questionará melhorias para o mundo. Ao adotar uma postura questionadora, abrindo mão daquilo que lhes foi empurrado como verdade absoluta, os homens conseguiram revolucionar sociedades e organizações, livrando-as de exploradores. No século XIX, Henry Thoreau escreveu um ensaio chamado Desobediência Civil, em que propôs ao povo que era dever do indivíduo pensar, questionar e protestar contra as leis injustas dos governos, alegando que aceitar passivamente essas leis dava-lhes fundamento, foi o que pessoas como Mahatma Gandhi e Martin Luther King fizeram.
- Estará atento às novas oportunidades. Manter padrões de comportamento, aprendidos com a própria experiência, pode nos fazer perder boas oportunidades. Tim Brown cita em seu livro, Design Thinking, o exemplo de Chuck House, um jovem trabalhador da HP que, por não ter apoio, fugiu das normas sociais e corporativas de sua época e desenvolveu em segredo um produto que, entre outras coisas, tornou possível a transmissão da chegada do homem à Lua. Após o grande sucesso comercial de seu experimento, Chuck House foi promovido a diretor de engenharia pelo próprio David Packard, que proibiu a interdição de qualquer pesquisa futura e ainda lhe concedeu uma “Medalha por Desacato”.
- Enxergará. O excesso de confiança pode lhe cegar, Jim Collins propôs uma situação paradoxal em seu livro, Como as Gigantes Caem, alegando que o sucesso é o maior catalisador do fracasso, isso porque grandes executivos, após grandes acertos e muito conhecimento adquirido, acabam por ter uma postura arrogante perante novos desafios, dificultando a compreensão de eventuais problemas. Essa sensação de invencibilidade foi percebida pelos gregos, em 500 a.C., que a descreviam como “hubris” – uma forma de orgulho que perde contato com a realidade – e leva à “nêmesis” – uma punição fatal ou queda.
Adotar o Desapego Criativo não é das tarefas mais simples, muitas vezes percebi tardiamente que havia defendido alguns argumentos me baseando em conceitos adquiridos em situações completamente distintas, que poderiam servir como referência, mas nunca como base para minhas opiniões. Então, ao construir seus argumentos, faça como os cientistas, considere viáveis apenas teorias que podem ser contestadas.
A conclusão parece óbvia, somos eternos aprendizes, então, desaprenda e reaprenda, não existe ideia imortal ou conceito imutável. Quando estiver no caminho de seu sucesso, lembre-se do processo de caminhar, que consiste em perder e retomar o equilíbrio repetidas vezes.
Referências: Como as Gigantes Caem, Jim Collins, 2010. Design Thinking, Tim Brown, 2010. O Livro dos Negócios, Diversos Autores, 2013. O Livro da Economia, Diversos Autores, 2012. Antologia ilustrada de FIlosofia, Ubaldo Nicola, 2005