Análises levianas + conclusões infundadas = morte corporativa.
Os cenários cada vez mais complexos fazem com que as avaliações, estudos e pesquisas ganhem importância vital na condução de organizações. São as temidas análises, que podem avaliar desde o potencial de um mercado até a variação de preços de um sanduíche.
A correta interpretação de dados é fundamental para o sucesso dos negócios, afinal, é através dessa inteligência que buscamos melhorar o futuro. Com as conclusões desses estudos é que são definidas as estratégias, a alocação de recursos e a viabilidade de novos projetos.
O que tenho percebido, no entanto, é que análises levianas estão cada vez mais presentes em nosso dia a dia, uma interpretação incompleta dos fatos que fatalmente culminam em decisões mal feitas. Seja no meio acadêmico, editorial ou corporativo, seu uso pode ser observado com frequência. É curioso pensar que exista engajamento para complicação da solução, enquanto, em paralelo, observamos tendência de simplificação do problema.
É claro que muitas vezes temos pouco tempo para uma pesquisa mais adequada, assim, acabamos buscando atalhos e contando com a intuição, porém, o que deveriam ser apenas exceções estão virando regra. Essa maneira mais irresponsável de ver as coisas parece ter outras motivações. São elementos que podem enviesar análises:
- A pressa para que tudo seja feito o mais rápido possível;
- A falta de engajamento ou descuido dos analistas;
- O interesse em algum resultado específico;
- Dados, ferramentas, habilidades ou recursos insuficientes.
- Busca por atalhos,
- Hábito de generalização.
O erro mais comum que tenho visto é resumir conclusões a apenas um único indicador. O termo Ceteris Paribus vem do Latim e significa que “todo o mais é constante”, ou seja, é quando se observa uma variável e considera-se que todas as demais não sofrerão qualquer tipo de oscilação. Esse método pode servir para exemplificar alguns fenômenos, mas não servem para refletir a complexa realidade.
Seria como determinar o tempo que você leva para chegar ao trabalho, baseado apenas na distância da sua casa. Sabemos que há grandes chances dessa previsão ser um fracasso, afinal, teríamos que considerar trânsito, clima, possíveis acidentes, cruzamentos e muitas outras interferências para termos uma previsão mais acurada. Um cenário de alta complexidade não pode ser resumido a uma ou duas variáveis.
Uma análise desse tipo pode gerar muitos problemas em diversas áreas, você pode, por exemplo, atribuir um fraco desempenho de vendas de um produto ao seu preço e não perceber que ele está ficando obsoleto; ou pode criar um material resistente ao frio e ao calor, mas esquecer de considerar o vento; pode viabilizar o lançamento de um serviço ao confirmar o interesse das pessoas, mas não considerar se elas terão condições financeiras para contratá-lo.
Existem exemplos diversos que comprovam a preocupação com o desenvolvimento de visão mais abrangente:
- A macroeconomia avaliava o desempenho de um país, baseado exclusivamente em seu Produto Interno Bruto (PIB). Com a noção de que este dado isolado não seria suficiente, surgiram muitos outros indicadores para complementá-lo, como por exemplo a Paridade do Poder de Compra (PPC), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e até o Índice Big Mac.
- A microeconomia possui ferramentas que avaliam a influência de fatores secundários, observando a “elasticidade” de algumas variáveis em relação à outras;
- Com estatística, podemos levar duas ou mais variáveis a testes de correlação entre si, usando, por exemplo o Coeficiente de Correlação de Pearson;.
- Na Física, classificam-se os fatores que poderiam interferir em eventuais observações: aqueles que se mantém constantes são chamados de Referenciais Inerciais.
- No meio acadêmico, além de vasta literatura, observa-se uma crescente oferta de cursos para suprir essa demanda por habilidade analítica, como especializações em Ciências de Dados e Big Data.
As análises levianas levam a conclusões infundadas e dependem de uma outra variável para estarem corretas: a sorte. E,como sabemos, depender dela não é algo muito promissor. Os erros podem fazer com que você perca o timing de mercado, direcione recursos para algo irrelevante, perca clientes para um concorrente mais atento e, em último caso, pode levar sua empresa a falência. Foi o que aconteceu com a famosa “Contabilidade Criativa“, em que algumas empresas direcionavam os resultados de acordo com interesses próprios. A prática culminou em muitos escândalos de níveis mundiais, falências e prisões.
As análises devem ser fontes fidedignas de informações para decisões estratégicas e estarão cada vez mais presentes no dia a dia da maioria dos profissionais. Como vimos, muitos erros acabam acontecendo por falta de direcionamento, então, para evitar a irresponsabilidade analítica:
- Seja imparcial;
- Pesquise e utilize ferramentas de análise;
- Conheça o contexto do que está analisando;
- Desenvolva visão holística;
- Peça opinião e feedback…;
- …mas não faça de seu estudo um “compilado de percepções“;
- Equilibre dados quantitativos e qualitativos;
- Esqueça as conclusões anteriores e investigue todas as possibilidades atuais;
- E, por fim, fuja da falácia, busque apenas a verdade, doa a quem doer.