O poder do otimismo e a influência do líder
Considere um antigo grupo de caçadores em uma selva da África, que sai em busca de um veado. A estratégia de persegui-lo, cercá-lo silenciosamente e em um movimento ágil, surpreendê-lo com uma rede, não poderia ser outra, afinal, o animal é muito rápido e as flechas e lanças dos caçadores, ineficazes. O Problema é que trata-se de uma tarefa complexa. Cercar um animal selvagem sem que ele perceba, leva tempo, exige paciência, habilidade e um exímio trabalho em equipe.
Qualquer deslize de um dos integrantes do grupo pode resultar no fracasso de um dia inteiro de caça e consequentemente fome para todo seu bando, incluindo as mulheres e crianças que dependem deles.
Mas, existe uma outra opção: caçar lebres. Que são abatidas mais facilmente, porém, não saciam a fome de todos. Além disso, mesmo que seja necessário apenas um caçador para abater uma lebre, com sua ausência, a estratégia de cercar o veado torna-se impossível para o grupo.
É aqui que reside o dilema de Jean-Jacques Rosseau, todos gostariam de trabalhar em grupo, caçar o veado e dormir de barriga cheia, mas só trabalharão em equipe se confiarem em todos os integrantes. Se alguns caçadores duvidarem de outros ou tiverem medo que algum deles se distraia, serão dominados pelo pessimismo e optarão por caçar lebres. No final das contas, capturar o veado ou não, depende do otimismo de cada indivíduo:
“Este é o principal ensinamento da alegoria de Rosseau: de modo geral, a possibilidade de que nossos esforços coletivos atinjam seu objetivo dependerá do grau de otimismo do grupo ou da sociedade a que pertencemos. Acreditar que é possível obter qualquer coisa ajuda a fazermos todo o possível para que isso se torne realidade. E então as nossas previsões otimistas se cumprirão. O mesmo se aplica a situação oposta: se pensarmos que uma coisa é muito difícil de se obter, não faremos todo o possível para consegui-la e as previsões pessimistas se confirmarão”
Yanis Varoufakis
Nos dias de hoje, temos os nossos próprios dilemas, mas temos também uma figura que tem o poder de influenciar o grupo: o líder. Eu já me questionei bastante se a melhor liderança envolve um equilíbrio entre pessimismo e otimismo, para que as pessoas busquem o melhor e se preparem para o pior. Mas hoje, tenho uma opinião diferente, acredito que o líder deve ser transparente e fazer os apontamentos mais pessimistas quando necessário, mas, de maneira geral, no dia a dia, deve passar confiança e otimismo para toda sua equipe. O dilema de Rosseau já é um ótimo exemplo do poder do otimismo, mas existe um outro exemplo citado pelo professor de Stanford, Robert Sutton, em uma de sua aulas, que pode lhe ajudar a escolher um lado:
“Um dos mais reveladores estudos feitos sobre o otimismo foi realizado em um campo militar israelense. O que eles fizeram, basicamente, foi escolher aleatoriamente cerca de 25% dos recrutas de um batalhão e dizer aos seus comandantes, sem nenhum fundamento, que essas pessoas tinham aptidões excepcionais, que seriam fantásticas no campo de treinamento e deveriam ser observadas de perto.
E bastou dizer isso apenas uma vez. Aqueles que receberam as recomendações foram tidos como um grupo de alta expectativa desde o início dos treinamentos e mesmo sem ser detectado qualquer tipo de característica que comprovasse essa tendência, receberam maior pressão por resultados. Acontece, que esses “escolhidos” tiveram um desempenho muito superior ao de seus companheiros, foram melhores em todo tipo de atividade, desde navegação até tiros de precisão. Isso aconteceu porque a liderança passou mais confiança e eles, consequentemente, passaram a acreditar mais neles mesmos.”
A vantagem desse tipo de abordagem traz benefícios para o grupo e para os indivíduos. Mas, para encher sua equipe de otimismo, não basta o discurso. Será necessário contornar muitas objeções, servir de escudo e comprar algumas brigas, desde que seja por algo que você realmente acredita, vai valer a pena.
Outro fato é que você deve admitir que os colaboradores prestam mais atenção no líder do que o contrário, eles observam a maneira que fala, que se veste, se comporta, enfim, o líder está no palco. Não é a toa que ele recebe mais louros quando as coisas vão bem e mais responsabilidade quando as coisas vão mal.
Por isso, manter uma postura e atitude otimistas, mesmo (ou principalmente) na adversidade, pode influenciar toda uma equipe a buscar o melhor. Deixe o pessimismo para as discussões de estratégia e Planejamento de Cenários. Se necessário, pare e reveja seu plano e equipe, mas enquanto estiver executando, deixe absolutamente claro para todos que você confia na estratégia e em cada integrante daquele time.
A confiança pode frustrar um empreendedor ou deixar um executivo cego (hubris), mas se o líder de uma equipe não acredita que algo é possível, ninguém mais o fará.
Referências: Conversando sobre Economia com a Minha Filha. Yanis Varoufakis, 2013. Stanford Innovation and Entrepreneurship Certificate Application, Robert Sutton, Stanford, 2016