Metodologias da Inovação – Outras ferramentas para gerar ideias e insights
Já discutimos que a Criatividade é uma das habilidades mais importantes para os próximos anos. Afinal, em um mundo que não para de mudar, pouco adianta pensarmos com a lógica de ontem. Já concluímos também, que a inovação é uma Ciência, que carece de método e prática e não tem muito espaço para ideias aleatórias, que explodem na cabeça de entusiasmados, porém desfocados colaboradores. Para termos os insights certos, precisamos aliar Criatividade e Ciência, por meio de processos que permitam que as ideias fluam em uma única direção.
Além da Empatia, proposta pelo Design Thinking, a Matriz de Avaliação de Valor, contida na Estratégia do Oceano Azul, a Metodologia 7C, comentada no post Small Data e as 9 Regras da Cauda Longa, vamos acrescentar novas ferramentas de criação de insights, para encerrarmos a série Inovação na Prática:
Sinética
Desenvolvido por George M. Prince e Willian J. Gordon, o método “considera um processo na forma de uma metáfora, para tornar o familiar estranho, e vice-versa”. Trata-se de um sistema baseado na combinação e na divisão do problema em partes, por meio da formulação de analogias. Na prática, são 4 etapas simples:
- Defina qual é o problema ou área que pretende inovar, especificando alguns de seus elementos.
- Crie analogias. Pense em dispositivos, fenômenos naturais, comportamentos ou qualquer coisa que se relacione com um ou mais dos elementos do problema.
- Descreva tais analogias.
- Procure conexões com os elementos do seu problema.
Para cada elemento do problema, diversas analogias podem ser formuladas. Todas as conexões são listadas no fim e a melhor é selecionada, com o objetivo de produzir um projeto final único, que fornece a melhor solução possível para seu problema.
O método é bastante intuitivo, afinal, nossa mente está acostumada a buscar analogias e associações para transformar duas ou mais ideias antigas em uma nova.
No livro Bíblia da Inovação, Philip Kotler e Trías de Bes descrevem um bom exemplo sobre a utilização da Sinética, que facilita seu entendimento:
- Problema: Precisamos desenvolver políticas e ações para que as equipes de vendas tornem-se mais proativas e proponham ideias para aumentar as vendas. Os elementos são: (a) todos os vendedores devem participar; (b) não devemos forçá-los, a contribuição precisa ser livre e voluntária.
- Analogias : Tais elementos estão associados à democracia.
- Descrição da analogia: Em uma democracia existem partidos políticos e candidatos, as pessoas votam colocando sua escolha em uma urna.
- Conectando problema e analogias: Podemos estabelecer um tipo de sistema partidário, em que grupos de trabalho atuem em equipes e apresentem suas propostas para os demais. Assim, todos podem votar na ideia preferida, que será a escolhida.
Análise Morfológica
Trata-se de um método criado por Fritz Zwicky, cujo objetivo é solucionar problemas por meio do exame de suas partes componentes. Apesar de possuir um nome que nos faça acreditar em uma complexidade extenuante, a Análise Morfológica é extremamente simples:
- Defina o problema – Exemplo: Criar um smartphone com melhor custo benefício.
- Analise as especificações que o constituem e são mais pertinentes – Exemplo: Conexão, Câmera, Resolução de Tela e Material.
- Liste as opções para cada especificação – Exemplo: Conexão 2G, 3G ou 4G. Câmera: 2MP, 8MP ou 16MP. Resolução de Tela 480×800, 960×480 ou 1280×800. Material: plástico, metal ou aço escovado.
- Combine as especificações de todas as formas possíveis, testando cada uma delas (se necessário, inclua especificações inéditas) e, por fim, elimine as combinações que fazem menos sentido até chegar à melhor solução – Exemplo: Smartphone com conexão 4G, câmera de 4MP, tela de 1280×800, feito de plástico.
Claro que as especificações para um smartphone resultariam em uma lista muito maior do que essa, mas o exemplo nos dá uma noção de como aplicar a ferramenta na prática. A Análise Morfológica é, basicamente, um método combinatório, porém, uma abordagem muito abrangente, no sentido de que a partir de um diagrama único, uma quantidade muito alta de desconexões e provocações são geradas.
Demandas Adjacentes
O método, desenvolvido por Philip Kotler e Trías de Bes, consiste em deslocar para outras dimensões do mercado, o produto ou serviço que queremos inovar, causando assim provocações valiosas. “Trata-se de uma simples mas eficaz aplicação da técnica de substituição mediante à tarefa de analogias ocultas”.
- Defina o produto ou serviço que quer inovar.
- Identifique categorias adjacentes, ou seja, não são necessariamente seus concorrentes diretos, mas os consumidores aplicam as mesmas considerações para decisão de compra.
- Selecione um desses produtos e elabore um inventário dos atributos que impactam a decisão do cliente.
- Agora compare o seu produto ou serviço com esses atributos.
O principal ganho dessa ferramenta é a quantidade de provocações que ela irá gerar. Considere o seguinte exemplo: Você possui uma marca de sanduíches que são vendidos nas principais lanchonetes de sua cidade, mas está perdendo mercado e precisa fazer algo para reverter esse cenário. Faz uma breve pesquisa e percebe que os iogurtes estão com boa procura por clientes que querem fazer um lanche rápido, ou seja, apesar de não ser um concorrente direto, as mesmas considerações são levadas em conta na decisão do cliente.
Ao estudar esse produto, você percebe que os principais atributos são: busca por alimentação saudável, praticidade e preço. Quando coloca seu produto em comparação com esses atributos, percebe que está totalmente descolado. A partir daí, você pode tentar solucionar esses problemas, criando um novo sanduíche (ou outro alimento) que contenha um ou mais atributos encontrados no iogurte, conseguindo assim, aproveitar essa demanda adjacente.
Ferramentas Digitais
Já comentamos sobre uma série de ferramentas que podemos utilizar para validar ideias e gerar insight, como o Google Trends, as Tendências do Mercado Livre, os sites de reclamações e até a observação de concorrentes.
Estudos Acadêmicos
Um artigo da Harvard Business Review afirma que empresas inovadoras obtém suas principais ideias em artigos acadêmicos:
“Enquanto algumas empresas privadas empregam alguns excelentes cientistas, a maioria das pesquisas cientificas americanas é pública. Dê uma olhada em qualquer inovação significante, como um iphone, e você irá descobrir que a maioria, se não todas as tecnologias, veio de programas federais”
Isso aconteceu em muitos casos, como a internet, o GPS, scanners a laser e a maioria dos medicamentos mais vendidos. Portanto, para empresas que buscam inovação, as pesquisas podem ser uma grande fonte de insights. Para isso:
Monitore e participe – Para Jeff Welser, VP da IBM, participar ativamente é “incrivelmente crítico“. Segundo ele, a chave é ser conhecido como um participante ativo e não apenas um espectador: “Você precisa ter pessoas participando ativamente de conferências, escrevendo artigos e ajudando o campo da ciência a avançar. Você precisa agregar valor para receber valor”
Parcerias – Financiar pesquisas e consolidar parcerias ajudam no desenvolvimento do setor e lhe dão preferência na divulgação de resultados. Nesse caso, temos barreiras importantes, como o investimento necessário e a cultura brasileira acerca do tema, que não possui políticas públicas tão maduras como nos EUA. Mas vale ficar atento às oportunidades.
Eliminar as divisões culturais – Existe um gap entre pesquisas acadêmicas e pesquisas empresariais. Enquanto a primeira é mais aplicada ao trabalho exploratório (ou ciência básica) as pesquisas realizadas dentro das empresas são mais direcionadas à aplicação prática. Ambas fazem sentido no contexto empresarial e funcionam melhor ainda se forem unidas.
Para concluir
Nos últimos 6 posts, elencamos alguns métodos de inovação que podem ser aplicados em uma ampla variedade de ocasiões. São ferramentas que funcionam bem sozinhas, mas tem uma enorme vantagem se forem trabalhadas de maneira simultânea. Tomar emprestado o conceito de um método e o processo de outro, lhe permite criar uma solução que seja mais aderente à sua realidade. Essa é a maior arma que você tem para lidar com o cenário de incerteza atual.
Lembre-se, a mudança agora é a nossa rotina. Você pode escolher mudar o mundo ou se adaptar às mudanças, só não pode ficar parado.
Referências: Innovative Companies Get Their Best Ideas from Academic Research. HBR.com. A Bíblia da Inovação, Philip Kotler e Fernando Trias de Bes, 2011.