Os Axiomas de Zurique – conselhos dos banqueiros suíços para orientar seus projetos
Por volta dos meus 20 anos, decidi começar a investir na bolsa de valores. Todos aqueles números me fascinavam e a possibilidade de ter ganhos financeiros com algo tão dinâmico me fizeram entrar de cabeça no mundo dos investimentos. Claro que na época o dinheiro era curto e meus investimentos muito tímidos, mas fiz alguns cursos e li muitos artigos e livros sobre o tema. Um dos mais importantes, certamente, foi Axiomas de Zurique de Max Gunther.
A proposta do autor era compilar algumas regras de investimentos que um grupo de banqueiros suíços havia aplicado após a segunda guerra mundial, garantindo ganhos expressivos e contribuindo para que a Suíça se tornasse um dos países mais ricos do mundo.
Os Axiomas de Zurique são regras de gestão de riscos. Fala sobre como jogar o jogo dos investimentos para ganhar. “A maneira mais sensata de levar a vida não é fugindo dos riscos, mas expondo-se deliberadamente a eles. É entrar no jogo. Apostar. Mas não de maneira irracional. Ao contrário: apostar com cautela e deliberação; apostar de maneira tal que grandes ganhos sejam mais prováveis que grandes perdas”
Hoje percebo que esses axiomas podem ser utilizados em inúmeras situações de negócios. Tratam-se de conselhos frios, livres de emoção, que podem até ser considerados inadequados em um primeiro momento, mas possuem grande valia quando pretendemos reduzir os riscos que nós mesmos criamos.
A seguir, os 12 Axiomas de Zurique e alguns exemplos de suas possíveis aplicações para empreendedores e intra-empreendedores:
O primeiro axioma fala sobre risco
“Preocupação não é doença, mas sinal de saúde. Se você não está preocupado não está arriscando o bastante”.
A segurança é uma das nossas necessidades básicas, mas ninguém ficará rico se investir R$100 na poupança. A aversão ao risco pode distorcer seu discernimento sobre um investimento ser bom ou não. Muitas vezes, não damos início à execução de um novo projeto simplesmente pelo medo de sair de uma zona de conforto, o que pode resultar em prejuízos que você sequer vai saber mensurar.
Outro ponto importante sobre risco é que as pessoas tendem a “economizar”, ou seja, apostar baixo o bastante para que o prejuízo, se ocorrer, seja irrelevante. Bom, dessa forma, você tem outra certeza: o ganho também será irrelevante, então, “aposte naquilo que vale a pena”. Se for correr risco de represália de um chefe agressivo por apresentar uma ideia, por exemplo, que seja uma ideia com potencial suficiente para compensar esse risco, do contrário, o esforço não vale a pena.
As pessoas também tentam diluir o risco em diversas apostas menores, alegando que, dessa forma, estarão evitando prejuízos maiores. Os retornos são proporcionais ao risco. Portanto, “resista à tentação das diversificações”, tenha foco.
O segundo axioma fala sobre ganância
“Realize o lucro sempre cedo demais“
A velha máxima de que “time que está ganhando não se mexe” não serve muito em um cenário dinâmico como o mundo dos negócios. Imagine que você possui em suas mãos um app revolucionário, que foi lançado recentemente e vai balançar o mundo digital. Alguns investidores lhe fazem propostas, mas você acredita que se esperar um pouco, para que o mercado ganhe mais maturidade, receberá investimentos muito mais parrudos. Aí você espera… espera… até que alguém lança um app exatamente igual ao seu e você deixa de ser o foco dos investidores. A ganância para obter maior retorno te cegou da melhor decisão. “Entre no negócio sabendo quanto quer ganhar; quando chegar lá, caia fora”.
O terceiro axioma fala sobre esperança
“Quando o barco começar a afundar, não reze. Abandone-o“
Você e sua família decidiram entrar no grande e promissor mercado das Yogurterias, o que se observa é aquele frisson, cada dia um concorrente abre as portas, tem Yogurte em toda esquina não tem como dar errado. Até que… bom, até que acontece o que realmente aconteceu nesse mercado. Falhar não é o maior problema, a verdadeira catástrofe é não perceber logo que as coisas não estão dando certo, então, se for pra falhar, falhe rápido.
Existem três obstáculos à implementação desse axioma: medo de arrepender-se, incapacidade de abrir mão de parte de um investimento e a dificuldade de admitir erro. “Aceite as pequenas perdas com um sorriso, como fatos da vida. Conte incorrer em várias, enquanto espera um grande ganho“.
O quarto axioma fala sobre previsões
“O comportamento do ser humano não é previsível. Desconfio de quem afirmar que conhece uma nesga que seja do futuro“.
Um grande insight vem à sua mente enquanto você está em seu escritório, trata-se de uma nova forma de atendimento em uma agência bancária, que vai garantir as demandas de qualidade dos clientes e garantir maior eficiência de custos para o banco. Você pode até pensar em investir um bom dinheiro nisso ou pode antes, ir a campo, conversar com quem vive no dia a dia da agência, testar a ideia e garantir que não esteja buscando uma eficiência cega. Reaja às mudanças do mercado e não dê tanto crédito a algo que tenta prever o comportamento humano, você vai acabar virando um torcedor.
O quinto axioma fala sobre padrões
“Até começar a parecer ordem, o caos não é perigoso“
Você está em sua sala e um analista entra ofegante para falar sobre uma ótima oportunidade que encontrou. Ele prontamente abre uma apresentação cheia de gráficos, números e tabelas que comprovam um padrão no comportamento nas vendas da sua empresa, que se repetiu algumas vezes no último ano e pode ser um ótimo motivo para direcionar os esforços de sua equipe.
Cuidado! Provavelmente, é uma armadilha. Não que as intenções do analista não fossem boas, mas depender de histórico para fazer previsões futuras não é nada sensato.Tais estudos podem lhe ajudar em sua decisão, mas, geralmente ignoram o acaso, o que pode causar grandes estragos no futuro.
O sexto axioma fala da mobilidade
“Evite lançar raízes. Tolhem seus movimentos”
Imagine que te convocam para fazer parte da equipe de projetos para criar um produto inovador, tudo começa muito bem, com grandes perspectivas e entusiamo. Mas logo essa euforia dá lugar ao desespero. O mercado mudou e o tal produto não faz mais sentido. Você tem carta branca para sair da equipe, mas decide ficar, por que tem a esperança de que as coisas vão melhorar ou por acreditar que vai decepcionar alguém.
Apesar de parecer uma atitude louvável, tal decisão geralmente é acometida pela incapacidade de se admitir uma derrota. Mais uma vez sua decisão foi baseada em um viés irracional, que tem grades chances de lhe trazer prejuízos. “Numa operação que não deu certo, não se deixe apanhar por sentimentos como lealdade ou saudade”
O sétimo axioma fala sobre intuição
“Só se pode confiar num palpite que possa ser explicado”
Um primo de segundo grau chega para você dizendo que encontrou uma ideia de negócio absolutamente confiável, com enorme potencial de lucro. Você pode ceder à sua empolgação e correr para o banco fazer um empréstimo, porém, o mais sensato, seria testar a viabilidade do negócio. Não ignore uma intuição, tampouco aceite-a indiscriminadamente.
“Quando você quer muito alguma coisa, é facílimo passar a acreditar que tal coisa acontecerá. Este dado da psicologia humana deixa confusas as crianças que sonham com o que querem no Natal, e confunde os investidores que sonham com o dinheiro que vão ganhar”
O oitavo axioma fala sobre religião e ocultismo
“É improvável que entre os desígnios de Deus para o Universo se inclua o de fazer você ficar rico“
Entrar em um novo negócio acreditando que terá alguma ajuda sobrenatural é a mesma coisa que vestir sua camisa da sorte no jogo do seu time. Tal situação pode lhe trazer certo conforto, mas não será determinante para seu sucesso. Então, seja racional ao abordar uma oportunidade. Superstição e reza não são variáveis significativas nesse caso.
O nono axioma fala sobre otimismo e pessimismo
“Otimismo significa esperar o melhor, mas confiança significa saber como se lidará com o pior. Jamais faça uma jogada por otimismo apenas”.
O otimismo é muito bem vindo em algumas situações, mas quando falamos de investimentos e empreendimentos, a sensação de que as coisas vão dar certo de qualquer jeito podem lhe causar perdas.
Considere que você é o novo dono ou responsável por uma loja de departamento, as vendas da primeira semana não são boas, mas como um bom otimista, você acredita que as coisas vão melhorar e decide esperar. Ao adotar essa posição, você deixa de enxergar algumas oportunidades: um concorrente pode ter inaugurado uma nova loja, você está com preços mais altos ou o acesso à loja está comprometido devido a algumas obras na rua ao lado, enfim, inúmeras possibilidades de virar o jogo que você não foi capaz de enxergar.
O pessimismo tem o mesmo efeito, se procurar olhar apenas para as dificuldades será difícil encontrar o caminho mais vantajoso.
O décimo axioma fala sobre consenso
“Fuja da opinião da maioria. Provavelmente está errada.“
Se todos estão abrindo uma Temakeria na sua cidade, provavelmente, você já perdeu o momento. Não insista apenas pelo medo de não ter surfado uma onda. A oportunidade já passou e a probabilidade de ter prejuízo é muito grande. “Jamais embarque nas especulações da moda. Com frequência, a melhor hora de se comprar alguma coisa é quando ninguém a quer“.
O décimo primeiro axioma fala sobre teimosia
“Se não deu certo da primeira vez, esqueça“
Essa regra é bastante contrária aos discursos dos entusiastas do empreendedorismo, mas é muito útil quando se fala de risco. Se o mercado não tem interesse pelo seu produto, por exemplo, as suas chances de ter algum sucesso podem melhorar muito se você mudar o caminho.
É como um analista que insiste em criar um dashboard totalmente inovador, com todos os indicadores da empresa reunidos e cheio de análises gráficas, porém, os executivos não tem nenhum interesse em ter esses dados compilados. Certamente, esse funcionário tem maiores chances se direcionar seus esforços de inovação para outra coisa. Se acreditar verdadeiramente em algo, siga em frente. Mas se estiver insistindo, apenas para provar alguma coisa, é hora de mudar.
O décimo segundo axioma fala de Planejamento
“Planejamentos a longo prazo geram a perigosa crença de que o futuro está sob controle. É importante jamais levar muito a sério os seus planos a longo prazo, nem os de quem quer que seja”
Suponha que você fez um planejamento de logística de seu recém lançado e-comerce. Você faz a análise para os próximos 3 anos, afinal, não quer ter surpresas. Acontece que essas “surpresas” são parte inerente a qualquer negócio. Raramente conseguimos prever como um mercado vai se comportar no próximo mês. Nesse caso, o planejamento de cenários pode ajudar, mas lembre-se que você precisa estar pronto para se adaptar rapidamente a qualquer mudança.
Referências: Os Axiomas de Zurique, Max Gunther, 2009.