A busca por excelência e a barreira do coitadismo
São cada vez mais abundantes os conteúdos que defendem a tese de que estamos nos tornando reféns do nosso trabalho. A discussão envolve o fato de abrirmos mão de nossas vidas em prol de uma busca incessante por realização profissional, o que nos tornaria seres humanos infelizes e angustiados. Exploram também o fato de algumas pessoas se dedicarem tanto aos seus ideais, que acabam perdendo o que é realmente importante ao longo de sua existência. Devo dizer que concordo com o equilíbrio, mas, para que ele exista, nossos objetivos não devem ficar em segundo plano.
Uma questão muito importante sobre esse tema são os exemplos que o ilustram. Aqueles que defendem uma vida menos dedicada e mais tranquila, geralmente, apontam como álibis pessoas que passaram por muito estresse em suas longas jornadas laborais e, no final, perceberam que nada tinham, que todo esforço foi em vão.
Entendo que esse não é um desfecho feliz, mas será que esse é o único destino para aquele que escolhe se dedicar por sua causa?
O que dizer, por exemplo, dos atletas? Eles passam anos de suas vidas treinando dia e noite, abrindo mão de sua vida social e de alguns dos prazeres e caprichos considerados “essenciais” para uma vida plena e feliz. Muitos ultrapassam os limites do próprio corpo, colocando em risco sua saúde, e tudo isso em troca do quê? Uma medalha? Um recorde? Não, trata-se da sua causa, um propósito de vida de valor inquestionável.
E os artistas? São anos de estudo e prática. Alguns abrem mão da própria infância para chegarem ao patamar que buscam, ficam meses longe de suas famílias, aprimorando suas técnicas para conseguirem refletir, através da arte, tudo aquilo que aprenderam e sentiram ao longo do caminho.
Uma dedicação incansável parece ser um ponto em comum entre atletas e artistas, assim como, entre inventores, pesquisadores, cientistas e escritores. Por que não agir como eles ao buscar nossos objetivos?
Temos muitos exemplos no mundo dos negócios que fizeram exatamente isso e são considerados homens de sucesso. Não encontramos questionamentos, por exemplo, das escolhas de Bill Gates, que trocou seus anos dourados por algo que acreditava e se dedicou diligentemente para que suas ideias se tornassem realidade. Tampouco, vejo questionamentos sobre as escolhas de Silvio Santos, que desde muito cedo se dedicou quase que exclusivamente aos seus objetivos, ou dúvidas sobre as decisões de Flávio Augusto da Silva, Mark Zuckerberg, Steve Jobs, entre tantos outros aficionados por seus ideais.
Me parece que o discurso que defende a inércia, muitas vezes, é puro mimimi. Afinal, ele não parece servir para aqueles que obtiveram êxito, mas justificam apenas o fracasso, a desistência ou a insegurança. Note, por favor, que não estamos falando de dinheiro, afinal, nesse caso, cifras seriam apenas uma medida de suas conquistas, como a medalha é para um atleta. O sucesso trata-se de equilíbrio, sua família e saúde estão ao lado de sua causa. A dedicação pelo seu emprego, concurso, empresa, ideia, arte, esporte ou seja lá qual for sua escolha é o que define quem você realmente é. Não menospreze o seu propósito.
Um renomado psicanalista alemão, Erik Erikson, dizia que a personalidade “se desenvolve a partir de um plano básico”, segundo ele, existem oito estágios de desenvolvimento humano, observe que os dois últimos falam sobre legado:
- 0 a 1 ano – Confiança X Desconfiança: Determinada pelo atendimento das necessidades da criança.
- 18 aos 24 meses – Autonomia X Vergonha e Dúvida: Provocados por pequenos fracassos ou repreensões paternas.
- 3 aos 6 anos – Iniciativa X Culpa: Crianças descobrem que suas ações podem afetar outras pessoas.
- 6 aos 12 anos – Diligência X Inferioridade: Foco em educação e habilidades sociais.
- Adolescência – Identidade X Confusão: Noção mais coerente do que somos, dificuldades podem gerar crises de identidade.
- 18 aos 30 anos – Intimidade X Isolamento: Construímos vínculos fortes.
- 35 aos 60 anos – Produtividade X Estagnação: Empenho em prol das gerações futuras ou por contribuições à sociedade por meio de atividades sociais.
- A partir dos 60 anos – Integridade X Desespero: Sensação de “completude” e “inteireza pessoal” que é diretamente proporcional ao grau de sucesso que se obteve ao lidar com estágios anteriores.
Conheço muitas pessoas que não tem grandes ambições e preferem uma existência pacata e, vejam só, lutam para conseguir viver dessa forma. A grande questão desse post é lhe convidar a refletir sobre aquilo que acredita ser o seu papel no mundo, o seu legado. Mesmo sabendo que a derrota é uma possibilidade, você está lutando pelo que acredita ou está apenas vendo a vida passar, paralisado pelo medo de desperdiçá-la?
Referências: O Livro da Psicologia, diversos autores, 2012