A melhor maneira de criar conexão.
Por muito tempo, tentei descobrir como algumas pessoas conseguem cativar as demais sem esforço algum. Afinal, criar conexão com os outros, em uma sociedade que depende tanto da informação, é uma vantagem competitiva e tanto.
As observações que fiz não foram muito conclusivas, em alguns momentos parecia que a ligação entre duas pessoas fora criada devido a algumas características em comum, mas em outros casos, parecia ser exatamente a mesma característica em comum que impedia tal conexão. Pensei também na relação ganha-ganha, mas o relacionamento gerado sempre foi muito superficial, ou ainda, aquela gerada por alguém que possui características complementares a outra pessoa, porém, é outra teoria que não me convenceu.
Todos esses comportamentos podem realmente criar laços afetivos, mas não correspondem àquelas conexões que são criadas imediatamente, nos primeiros minutos de uma conversa. Isso deixa claro que, o que desperta nosso interesse não é de causa consciente, existe algo que acontece antes e nos faz gostar mais de alguns do que de outros. O modo de vida urbano das sociedades que conhecemos hoje é muito novo, do ponto de vista evolutivo, para que consigamos encontrar respostas sem olhar para o passado. Desde o surgimento do ser humano, vivemos muito mais tempo em cavernas do que em apartamento luxuosos, portanto, nossos comportamentos têm grandes chances de terem sido desenvolvidos há muito tempo atrás, em cenários selvagens.
O psicólogo e Nobel de Economia Daniel Kaheman cita em seu livro Rápido e Devagar, que nosso cérebro aprendeu a fazer julgamentos antes mesmo de nos darmos conta. Essa ação inconsciente evoluiu como um sistema anti-ameaças, que ” foi moldado pela evolução, para fornecer uma avaliação contínua dos principais problemas que um organismo deve resolver para sobreviver: Como andam as coisas? Existe alguma ameaça ou grande oportunidade? Tudo está normal? Devo me aproximar?”. Todas essas considerações são feitas a todo o momento e duram milésimos de segundo, seu cérebro avalia expressões corporais, roupas e movimentos, mesmo que você não queira.
Essa capacidade de avaliação foi posta à prova por Alex Todorov, o qual demonstrou que somos dotados de uma capacidade para estimar, com um simples olhar para o rosto de um estranho, dois fatos potencialmente cruciais sobre essa pessoa: “até que ponto ela é dominante (e portanto potencialmente ameaçadora) e até que ponto é confiável, isto é, se suas intenções estão mais para cordiais ou hostis“. Todorov mostrou fotos de rostos de homens para seus alunos, alguns por apenas um décimo de segundo, e solicitou uma classificação de acordo com seus atributos, incluindo capacidade de agradar e competência. Os resultados tiveram grande consenso entre os observadores, mas a grande revelação do experimento foi que as fotos eram de candidatos a algum cargo político de diversos países, onde incríveis 70% dos candidatos classificados com melhores atributos de competência venceram as disputas eleitorais. Em alguns casos, os resultados de Todorov foram mais proféticos do que as próprias pesquisas de intenção de voto.
Kahneman e Todorov mostraram que fazemos um pré-julgamento das pessoas, considerando apenas suas características físicas e, apesar dos resultados dos testes mostrarem que esse julgamento pode ser bastante preciso, é muito importante entendermos que ele não é 100% eficiente.
Quando levamos essas descobertas para nosso contexto, percebemos que é extremamente importante cuidarmos da imagem que passamos às pessoas, cuidando da nossa postura, das nossas expressões corporais e, até mesmo, de nossas vestimentas. Já parou pra pensar quantas avaliações sobre você estão acontecendo quando entra em uma reunião?
“Os segundos iniciais de um primeiro encontro são conduzidos por reações instintivas. Cada pessoa faz avaliações inconscientes e impensadas centradas em sua segurança […] enquanto o corpo entra em um nível mais alto de atenção, um escudo mental aparece para protegê-lo […] a atenção das pessoas é voltada para aqueles que estão acrescentando energia ao ambiente, em vez daquelas que estão tirando energia do lugar. Pessoas procuram quem vai encorajar o crescimento delas, quem vai dar, não tirar“.
Nicholas Boothman
Feito um julgamento inconsciente, partimos para o primeiro contato. Para destituir os mecanismos de defesa das pessoas, devemos demonstrar que não somos uma ameaça, as dicas a seguir são do especialista Nicholas Boothman:
- Cumprimente olhando nos olhos, seja o primeiro a falar algo e sorria.
- Deixe suas mãos a mostra.
- Garanta que não há nada entre vocês.
- Fique de frente para pessoa.
- Alinhe seu tom de voz ao da pessoa.
Essas pequenas atitudes, podem gerar uma relação de maior confiança, dando abertura para um conversa mais longa. Quando iniciar a conversa, existem 3 comportamentos que são extremamente valorizados e podem criar conexões fortes e duradouras:
- Humildade
- Entusiasmo
- Curiosidade
Esses três comportamentos são extremamente poderosos e atraentes, mas você já deve ter percebido que não dá pra fingir tudo isso, a imagem revelada depende muito de sua energia, estado de espírito, humor, ou seja lá do que queira chamar. Para isso, você deve fazer o que gosta, estar onde quer estar e sempre cuidar para que seu comportamento seja coerente com suas características mais positivas.
Referências: Rápido e Devagar, Daniel Kahneman, 2011. Como Convencer Alguém em 90 Segundos, Nicholas Boothman, 2010